Numa pequena floresta habitava uma cigarra que cantava
tão bonito que quem a ouvisse não resistia e parava para apreciá-la. O
interessante é que em cada árvore em que ela se agarrava o som saia diferente.
Isto chamava muito a atenção da bicharada.
E a bicharada sensível aquele som, fazia coro com a
cigarra, cada um em sua respectiva voz:
o pássaro chilreava;
o lobo
uivava;
a cobra
sibilava;
o sapo
coaxava;
o macaco
guinchava;
o grilo
cantava;
o inseto zumbia;
o papagaio
palreava.
Era uma verdadeira sinfonia.
A formiga, porém, sempre apressada em guardar o seu
alimento, passava carregada de folha e não dava atenção ao cantorio dela..
Intrigada, a cigarra abordou a formiga:
- Senhora formiguinha,
todos os animais param para ouvir o meu cantar e, até, fazem coro comigo e a
senhora sempre passa muito ligeira, seguindo o seu caminho e não dá ouvidos a
meu som. Por quê?!
A formiga
respondeu:
- Estou muito ocupada e não posso deixar o meu
trabalho para ouvir quem não tem o que fazer.
A cigarra devolveu:
- O que é isto, senhora formiga, quanta grossura em
sua resposta?!
- É isto
mesmo, dona cigarra - falou a formiga - continue cantando e quando o inverno
chegar faltará comida para a senhora.
A cigarra meio desolada expressou:
- Senhora
formiga, trabalhar é muito bom, mas divertir-se
é um lazer que todos devem
praticar porque além de trazer mais
alegria e disposição para trabalhar, proporciona saúde.
A formiga, então, indagou-lhe:
- Quando faltar comida, onde encontrarei? Como
alimentarei minha família?
Retrucou a
cigarra:
- Sei que a
sua colônia é muito bem organizada. Há enfermeira que cuida das larvas. A
rainha é destinada à procriação. A operária faz o túnel do formigueiro e busca alimento
e a sentinela cuida da segurança. Cada uma tem algo particular para cuidar
dentro da colônia. Então, procure armazenar somente o necessário para os dias
do inverno, nada de excessos porque os excessos sempre trazem prejuízos. A
senhora não me vê cantando e sempre alegre? Quando sinto fome voo até a plantinha
e pego uma folha e logo fico alimentada e volto para o meu divertimento. Por
isso, vivo sempre a cantar, sempre a sorrir, sempre a alegrar a todos que me
ouvem e tenho muita satisfação nisto. A vida só é colorida se a gente olhá-la
com o desejo de tornar a amargura em esperança, a tristeza em alegria; cada dia
em uma canção. Assim, o sentimento do viver torna mais leve e prazeroso a vida.
Venha juntar-se a nós e verá o gosto que o cantar faz em nossa vida.
A formiguinha meditou no que a cigarra lhe falara e
resolveu parar para ver o show de vozes no ar. E não é que a danada gostou?
Começou a emitir umas notas zumbiadas e caiu na farra, em meio àquela orquestração
maravilhosa.
Ela percebeu que tudo na vida tem limite. Não exagerar
nas preocupações para que elas não venham nortear as nossas vidas e permitir
que passemos pela vida e não a vivamos.
Texto publicado em VENDEDOR DE ILUSÃO do famoso escritor J R Viviani, por ocasião do 1º Contos e Prosas.